Descontinuar a rotina de imunização em tempos de Covid-19 é um retrocesso.
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Descontinuar a rotina de imunização em tempos de Covid-19 é um retrocesso.



Por: Lúcia Fernanda dos Santos (Farmacêutica especialista em farmácia clínica com formação em imunização).


Medidas de saúde pública vêm sendo tomadas para conter a rápida disseminação da Covid-19 em todo o mundo, mas com elas sérios problemas estão acometendo os serviços de saúde, incluindo serviços de imunização. Isso porque, com a demanda de serviços voltados à pandemia e a necessidade de mantermos o distanciamento social, corremos o risco de descontinuidade da imunização de rotina.


Instituições como o Ministério da Saúde (MS), Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIM) alertam que a descontinuidade da imunização, mesmo que por breves períodos, aumenta o número de indivíduos suscetíveis e a probabilidade de surtos de doenças evitáveis por vacinas. As consequências são o crescimento da morbidade e mortalidade e a sobrecarga dos sistemas de saúde já sobrecarregados diante da pandemia do SARS-CoV-2.


Embora o distanciamento social seja necessário, tais instituições consideram que a vacinação não deve ser um serviço de saúde interrompido e sua manutenção deve ser realizada em condições seguras. Da mesma forma, orientam que as estratégias criadas para a manutenção das coberturas vacinais sejam conciliadas com o isolamento/distanciamento social, necessário e fundamental no enfrentamento da Covid-19.

No Brasil, o Programa Nacional de Imunização é considerado um dos melhores do mundo, mas a não vacinação rotineira traz riscos para a manutenção do controle ou eliminação de enfermidades que antes foram causas comuns de doença, hospitalizações e óbitos. E caso esse quadro se instale, doenças imunopreveníveis podem sobrecarregar o sistema de saúde, seja por conta da necessidade de hospitalização prolongada ou confusão diagnóstica.


O Brasil tinha, por exemplo, o sarampo como doença erradicada. No entanto, a diminuição de nossa cobertura vacinal permitiu que, em 2018, o Brasil registrasse mais de 10 mil casos e perdesse a condição de sua eliminação. O sarampo é doença extremamente grave que interfere na imunidade do indivíduo, o que pode aumentar a chance de outras infecções, inclusive pelo novo coronavírus.


Outras infecções também são potencialmente graves e preveníveis por vacinas, como febre amarela, doença pneumocócica, doença meningocócica, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, diarreia por rotavírus, varicela, hepatite B, hepatite A, formas graves de tuberculose, doenças causadas pelo HPV.


As imunizações precisam ser fortemente consideradas para que o retorno de doenças potencialmente graves, que podem ser evitadas por vacinas, não seja mais uma herança negativa da atual pandemia.


Estratégias para conseguirmos conciliar o isolamento/distanciamento social, que deve ser respeitado sem dúvidas, e a manutenção da campanha nacional de vacinação contra a influenza, devem ser consideradas prioridades.


Estes são alguns dos possíveis exemplos estratégicos:


  • Evitar aglomerações e contato entre pessoas doentes e saudáveis

  • Reforçar estratégias de distanciamento, especialmente de idosos e pessoas que vivem com doenças crônicas.

  • As boas práticas de higiene individual e coletiva devem ser mantidas e reforçadas.

  • Avaliar o contexto local e adaptar de forma a garantir a segurança dos trabalhadores da saúde e da comunidade.

  • Estimular fortemente a vacinação de rotina ou mesmo as de campanhas em ambientes alternativos, como escolas, clubes e igrejas ─ áreas ociosas neste momento. Na impossibilidade disso, colocar os pacientes que procuram por vacina de rotina em outros ambientes, logo na chegada, para não permanecerem na mesma sala com a população em geral.

  • Estipular horários diferenciados para a vacinação de rotina, em especial para as crianças.

  • Estimular vacinação domiciliar de crianças ou outros grupos de risco.

  • Otimizar o calendário de vacinação, com a aplicação do maior número de vacinas possível na mesma visita, desde que se respeite o intervalo mínimo entre as doses e, se for o caso, entre vacinas.

  • Orientar a população para que não busque a vacinação na presença de sintomas respiratórios ou febre, e que, nesse caso respeitem o período de 14 dias do isolamento antes de voltar ao serviço de vacinação.


Juntos podemos enfrentar o desafio de manter nossas coberturas vacinais e não permitir o retrocesso de todas as conquistas obtidas!


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